sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Sobre os "cristãos novos" e os sobrenomes judaicos...

No desenho ‘Caminhada dos prisioneiros para o auto de fé’, 
de A. Shoonebeck:
um retrato da perseguição aos judeus 
    
   Nas aulas de ontem -- que as turmas 702 e 704 só terão na terça-feira que vem --, quando falávamos sobre a intolerância religiosa e as violentas perseguições a quem se opunha à religião do rei, muitíssimo constantes no regime absolutista, principalmente em monarquias como Portugal, Espanha e França, acabamos por cair na questão da perseguição aos judeus, que chegavam a ser obrigados a se converter ao cristianismo, abandonando (ou não) a sua fé: e daí vem a expressão "cristãos-novos". Vimos também que muitos desses vieram parar aqui no Brasil na época da colonização -- que coincide com o auge do absolutismo. 

   A historiadora da USP Anita Novinsky em sua dissertação 'O mito dos sobrenomes marranos' ["marrano" era outra forma, na época, de se referir a um judeu convertido ao cristianismo], exemplifica o dilema dos cristãos-novos brasileiros, nos primeiros séculos do país, como mostra a matéria de O Globo "O mito sobre a origem dos judeus convertidos", de Daniela Kresch (18/06/2012), cujo trecho copio e colo a seguir: 

"Expor ou não o sobrenome da família fora de casa, sob risco de ser identificado pela Inquisição e acusado do crime inafiançável de 'judaísmo'? O temor e a delicadeza do tema fizeram com que a genealogia dos descendentes de judeus portugueses no Brasil fosse envolta, por séculos, numa bruma de mitos e ignorância. Nos últimos anos, no entanto, pesquisadores têm revelado surpresas sobre os sobrenomes marranos no Brasil. [...]

Até recentemente, acreditava-se que esses judeus conversos abandonaram seus sobrenomes 'infiéis' para adotar novos 'inventados' baseados exclusivamente em nomes de plantas, árvores, frutas, animais e acidentes geográficos. Assim, seria fácil. Todos os portugueses com os sobrenomes Pinheiro, Carvalho, Pereira, Raposo, Serra, Monte ou Rios, entre outros, que imigraram para o Brasil após 1500 devem ter sido marranos, certo? Errado.

 — Em minhas investigações, não encontrei prova documental de que nomes de árvores, animais, plantas ou acidentes geográficos tenham pertencido apenas ou quase sempre a marranos — afirma Anita Novisnky, uma das maiores autoridades no assunto.

O que causa confusão, segundo Novinsky, é o fato de que os sobrenomes adotados pelos cristãos-novos eram os mesmos usados por cristãos-velhos, alguns por nostalgia, outros por medo de perseguições. Afinal, no Brasil, os marranos foram perseguidos por 285 anos pela Inquisição portuguesa. Quem demonstrasse apego à antiga religião poderia ser condenado à morte na fogueira dos 'autos de fé', as cerimônias de penitência aos infiéis.

Como identificar, então, quem era marrano? A mais importante pista está justamente nos arquivos da Inquisição. Aproximadamente 40 mil julgamentos resistiram ao tempo, 95% deles referentes a crimes de judaísmo. Anita Novinsky encontrou exatos 1.819 sobrenomes de cristãos-novos detidos, só no século XVIII, no chamado 'Livro dos Culpados'. Os sobrenomes mais comuns dos detidos eram Rodrigues (citado 137 vezes), Nunes (120), Henriques (68), Mendes (66), Correia (51), Lopes (51), Costa, (49), Cardoso (48), Silva (47) e Fonseca (33)."

Para ler a matéria completa, basta clicar AQUI.

   Agora, segue o link para outra matéria, "Os sobrenomes mais usados pelos cristãos novos", também de O Globo, para você ver se o da sua família está, ou não, entre eles (o da minha está...). Mas, atenção! Como disse a historiadora da USP Anita Novinsky, para saber se seus antepassados eram marranos, ou cristãos-novos, só mesmo montando a sua árvore genealógica e pesquisando nos arquivos da Inquisição, lá no 'Livro dos Culpados'... Bom, mas para ver a tal listagem, é só clicar AQUI

Matérias acessadas em 27/10/2017, às 20h56

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